Confissão III




I

Não! Não admito os medos superficiais,
Sou forte, sou rude, sou homem!
Não há temor no ventre, nem no seio, nem na porta que se abre iluminando os olhos e preparando-me o vôo.
Os pés, ágeis, dançam, correm, saltam.
As mãos sólidas realizam o movimento da mente, intrincado, lógico!
As mãos dóceis, afagam, tocam, acarinham.
Não! Não temo os medos superficiais! Estão aí, mas não causam grande reboliço!
Hoje temo, um temor de respeito, o espelho. Mas não é o medo que paralisa, nem o que afoga, faz perder o ar! Apenas respeito.
Mesmo que quieto
O Medo tende a arrebentar
E hoje vi! Hoje senti! Hoje chorei de medo!
Não temo a vida, temo a morte!
Não saberia não ser
Não saberia não tocar
Não saberia não enfurecer
Não saberia não indignar

Sobre tudo, não saberia não AMAR!


II

Ah, o pavor!        
Tomaste-me Abrupto! Porém sei da força de sua verdade!
Doce seria a vida ser vida mesmo na morte...
Mas doce é a vida e não a morte.
O sabor do desespero de saber-se finito e, mesmo assim, capaz de escolher!
Avante! Andante! Allegro ma non tropo! Nada sei das conseqüências absolutas de minhas escolhas, nada sei do inalienável futuro para quem vive, e viverá!
Nada sei do cárcere das escolhas e da liberdade das escolhas!
Saber é coisa para maduros, vividos. Não para sonhantes vivídos!


III

A ignorância pesa minhas escolhas, paralisa meus sonhos e dilui cada passo firme.
Mesmo assim, jogo-me, atiro-me, ateio-me o fogo do amor!
Sou insano?
Se não tenho nada além da vida como entregá-la a outrem?
Como pô-la em mãos frágeis que não suportam nem o mais aéreo peso concreto?
Como entregá-la aos olhos que freqüentemente se umedecem com novelas e buscam o sonho mais puro?
Como repousar minha única chance no colo humano, feminino, emocional, e passível de reviravoltas?

Entretanto é tudo que quero!

Como não pôr minha vida nas mãos que realizam os melhores afagos?
Como não entregar, de todo, aos olhos que iluminam qualquer obscuridade?
Como não depositar a vida no colo de quem constrói a proteção?

IV

Tenho uma chance,
uma vida,
uma cartada,
apenas uma escolha!

Além disso, há morte!  
Além disso, apenas o sumiço, o não!

Então, com tudo e único que tenho digo um sonoro SIM!
(oposto catatônico ao não que me espera)

Com a vida em mãos que não são minhas,
 suspiro,
 grito,
choro,
rosno,
sorrio,
e, sobre tudo, amo!
    
1 Response
  1. Thobila Says:

    Meu escritor favorito, disparadamente!!!!