Poema-Verdade

O Poema-Verdade se dói, força a entrada para o mundo.
Mas não poderei cantá-lo, pois alguém irá lê-lo
     (e a verdade não está ao alcance dos homens)

O Poema-Verdade me invade, quer gritar suas palavras
sem significado, insignificantes.
No entanto, não há amantes para o som que não se ouve.

O Poema-Verdade, catástrofe da vida, é prelúdio da morte secreta,
daquela que não se espera o funeral.

O Poema-Verdade me faz mal. Engodo que minha pouca vida criou,
criando-se.
Grito redimido do lodo, soneto obscuro
e sem forma que sou, e vou-me.

O Poema-Verdade: rude, parvo e ancho
Quer falar o que não se diz

Nunca peca, pois não o fiz

Espera-me na curva do dia infeliz
No momento em que não me tornarei em nada

O Poema-Verdade não canta mentiras
O Poema-Verdade não possui voz
O Poema-Verdade não se materializa
Não se significa,
E não me deixa em paz  
  
 Poema-Verdade, meu sutil algoz
Refil da minha calma cínica
Esconderijo da minha verve clinica
Que autopsia minha alma atroz

Poema-Verdade não ouse se libertar
Tomar corpo, caminhar em bocas alheias
Teu lugar é minha toca
Teu mel não é doce e nem produzido por abelhas
Fia-se em minha roca,
renda obscura,
 mas legitima.
1 Response
  1. Thobila Says:

    aplausos!
    Acho que esse poema se tornou um dos meus favoritos, incluindo na disputa uma tal de lispector....
    é serio! e tenho dito!