Confissão II


Dos numerosos trabalhos sobraram-me apenas as dores,
A compreensão, o carinho, os olhos úmidos, ficaram nas máquinas.

Fitaram-me o corpo tenso,
Viram-me os olhos pensos,
Sobre minha própria invasão.
Sangrei-me os membros tímidos,
Para livrar-lhes as máculas,
De nada adiantou.
Tomei pílulas.
Vomitei meus miúdos.
E de nada adiantou.

Vieram nascimentos
Vieram formaturas
E as memórias continuam taciturnas
Preso aos velhos momentos,
Nos instantes de fratura,
Padeço aos pedaços
Junto às moscas e ratos
Oriundos dos meus poços

Rasgo-me a carne
Futrico com as feridas
Rabisco-me de estrias
Para que, quem sabe, 
A manhã se abre
E o sol venha tocar meu rosto

E não adianta dizer-me roto,
A confissão não redime o pecado,
Enquanto os dedos realizam o movimento intrincado
E a expressão não mascara o rosto
Que continua sujo
  

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